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sábado, 26 de junho de 2010

Interromper

O que é capaz de interromper a vida de uma cidade? Talvez a pergunta pareça por demais metafórica para que seja bem compreendida, então permita-me reformulá-la: o que é capaz de fazer com que a pressa e a correria do dia-a-dia sejam interrompidos? Para responder a isso, precisamos voltar rapidamente no tempo.

Quando os jogos olimpícos surgiram por volta de 776 a.C., guerras eram interrompidas para que os atletas prestassem honras a Zeus competindo em seus esportes. Hoje em dia as olimpíadas ainda são o evento mais importante envolvendo diversos países com o objetivo de saírem de lá como vitoriosos no maior número de categorias. Cada modalidade esportiva lá tem seu valor máximo, pois um prêmio olímpico para qualquer esporte é o prêmio máximo que se pode obter. Para todos os esportes, menos para um. Futebol.

Haverá aquele que erguerá a mão e negará que a Copa do Mundo organizada pela FIFA seja mais valorosa para os competidores de futebol do que as olimpíadas de verão. Tolice. Se as olimpíadas mobilizam milhares de atletas, a Copa do Mundo mobiliza milhões de pessoas. Não é um evento trivial, mas sim único, ímpar, singular, em que o sentimento de identidade nacional bate mais forte, e em que os países se enfrentam como se estivessem em guerra, mas não movidos pelos sentimentos mesquinhos e destrutivos que a proporcionam, e sim pela nobre glória de serem consagrados "campeões do mundo". Não há um campo de trincheiras, mas um verde gramado. Não há uma zona de risco, mas um estádio de futebol. Não há de ter balas, canhões, mísseis e torpedos, mas os pés que movimentam habilmente a bola para estufar a rede. Para o perdedor, o consolo de poder tentar novamente em quatro anos. Para o vencedor, a conquista da taça.

E é isso que tem o poder de parar uma cidade. Só uma cidade? Diria um estado. Só um estado? Diria um país. Só um país? Diria o mundo! Se alguém duvida disso, desafio-o a cometer o sacrilégio de deixar de ver o jogo do Brasil, apenas por alguns instantes, para descer à rua, ou simplesmente para contemplar o mundo lá fora. O comércio está parado. Os bares estão cheios. Não há carros passando. Isso tudo porque o povo brasileiro, ou melhor, a própria terra que compõe o que chamamos de Brasil está parada, prendendo a respiração, observando agustiosamente cada segundo de jogo para, no momento certo, poder insuflar o peito e deixar sair o grito que todo brasileiro conhece melhor do que a si mesmo: "GOOOOOOOOOOLLLLLLLLLLL!". O grito que move multidões, que cativa os amigos, que aproxima os inimigos, que desconhece estranhos. Pois não há quem não se comova diante de um gol que o torna mais próximo do título mundial.

Se a vida não vai bem, se os problemas incomodam, e se tudo perdeu o sentido, vá ver uma partida de futebol. Pois quando se vê futebol, não se faz mais nada além disso. Uma boa partida é capaz de prender espectadores, unir nações e mudar o ânimo do mundo. Estou exagerando? Então vejam como está sua cidade no jogo do Brasil.

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