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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Medo (filosofia)

As pessoas sentem medo. Isso é inevitável, inescapável, indiscutível. Sentem medo de ir mal na prova, sentem medo de perder o gol na linha, sentem medo de esquecer o nome de um amigo, sentem medo de seus terrores imaginários, sentem medo do escuro, sentem medo de se casar, sentem medo de bater com o carro, sentem medo de morrer. Sentem medo de morrer sozinho. As pessoas sentem medo até mesmo de admitir que estão erradas, de admitir que não são o que dizem ser, entre outras coisas.

Eu passaria a minha vida descrevendo os medos que podemos sentir. E passaria outra vida dizendo para as pessoas que tem medo que combatam seus medos. Não perca meu ponto. Nós devemos SIM combater nossos medos. Mas não estou dizendo que isso é algo fácil, nem algo simples e, às vezes, nem mesmo algo possível. O medo é algo perfeitamente esperável. Perfeitamente aceitável.

Vejo muitas pessoas dizendo: "você deve combater seus medos". "Você deve enfrentá-los, destruí-los, eu tinha meus medos e os superei". Algumas perguntas que caberiam ser feitas: Com base em que você diz que alguém vai superar seus medos só porque você superou? O seu medo é o mesmo tipo de medo daquela pessoa? Mesmo que seja, seria a mesma intensidade? E, acima de tudo, você realmente superou seu medo?

Vencer um medo não é algo fácil. Não é algo banal. É uma tarefa épica. As pessoas hoje colocam como se fosse algo tão simples quanto cruzar a rua, virar a esquina. Um medo é diferente de um receio. Um medo é diferente de um mal pressentimento. Um medo é algo intenso. Um medo é algo que você prefere fugir a ter de encarar, que você sabe que vai te acompanhar boa parte da sua vida (se não ela toda) e que você terá de conviver com ele.

Eu tenho um medo. Acho que os nossos medos nos definem melhor que nossos sonhos e também acho que são pessoais. Não pretendo compartilhá-lo aqui, mas sem sombra de dúvida ele é o tipo de medo que vai me assolar minha vida inteira e, por mais que eu possa esquecê-lo, evitá-lo ou "superá-lo" ele ainda estará lá. Ele não vai me abandonar até o dia que eu morrer e, nesse dia e somente nesse, eu saberei se o venci ou não.

Não quero me estender mais sobre essa problemática. O que eu tenho a dizer é que é normal ter medo. E isso você já sabia. O que você talvez não sabia é que é normal não superar seu medo. Que é normal não salvar a criancinha no prédio em chamas. Que é normal recuar diante de uma decisão muito importante. Nós podemos tentar ser fortes. Nós devemos tentar ser fortes. Mas isso não quer dizer que vamos conseguir. E a falha é uma consequência da chance. É essa falha que o torna humano.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Músicas inesquecíveis (9)

Nesse músicas inesquecíveis, vou mostrar duas versões de uma música muito legal.

Em 1946:



Em 2009:



I've got you under my skin - Cole Porter (cantada por Frank Sinatra no primeiro vídeo e por Michael C. Hall no segundo)

I've got you under my skin.
I've got you deep in the heart of me.
So deep in my heart that you're really a part of me.
I've got you under my skin.
I'd tried so not to give in.
I said to myself: this affair never will go so well.
But why should I try to resist when, baby, I know so well
I've got you under my skin?

I'd sacrifice anything come what might
For the sake of havin' you near
In spite of a warnin' voice that comes in the night
And repeats, repeats in my ear:
Don't you know, little fool, you never can win?
Use your mentality, wake up to reality.
But each time that I do just the thought of you
Makes me stop before I begin
'Cause I've got you under my skin.

I would sacrifice anything come what might
For the sake of havin' you near
In spite of the warning voice that comes in the night
And repeats - how it yells in my ear:
Don't you know, little fool, you never can win?
Why not use your mentality - step up, wake up to reality?
But each time I do just the thought of you
Makes me stop just before I begin
'Cause I've got you under my skin.
Yes, I've got you under my skin.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tlec Tlec Tlec

(conversa de msn)
- Eaew
- ...
- Fala aew mano, como é que você tá?
- ...
- Cara, sou eu, Marcos. Não lembra de mim? A gente se falou há uma semana!
- *o outro participante parece estar offline*

É pessoal, é assim que conversas de msn se dão hoje em dia. Não, não estou falando daquelas pessoas que estão na sua categoria "amigos do peito" que falam contigo sobre as futilidades do dia-a-dia. Estou falando sobre os outros 97% do seu msn, que estão divididos nas mais variadas categorias, desde "inimigos mortais" até "colegas de birita". Se você tentar conversar com eles, é bem possível que aconteça isso aí.

Okay, primeira pergunta: por que diabos você deixa no msn alguém com quem você não quer falar? Se você não suporta ver alguém da velha guarda puxando assunto com você de repente, o mínimo que você deveria fazer era bloquear a pessoa e pronto. Todos viveriam felizes para sempre. Eu diria que somente UMA vez fiquei chateado porque alguém que não falava comigo há muito tempo veio puxar conversa. E isso porque eu estava num dia ruim.

Segunda pergunta: dá muito trabalho conversar com alguém que você já teve contato? Não, é sério, dá tanto trabalho assim? Você deve se esforçar pra falar com a tia da padoca que faz seu café da manhã todo dia. Ou com os caras da academia que puxam assunto sobre futebol. Ou com os vendedores de lojas que querem te empurrar os produtos. O que custa falar com alguém que, em algum momento da sua vida, você já teve contato? Pelo menos UM assunto vocês vão ter em comum. Pelo menos um. Bem melhor do que tá esperando o ônibus na parada há 30 min e comentar "tá quente né?" pra ver se alguém compra sua conversa.

Terceira pergunta: se você é um motherfucker anti-social, POR QUE CRIOU UM MSN? Acho que não tem pra que explicar o raciocínio dessa última pergunta.

Dizem que a internet aproxima pessoas. Bullshit. Se você ficasse mais tempo sem falar com os desconhecidos que você não fala, vocês teriam MUITO mais assunto quando se reencontrassem (óbvio, considerando que vocês eram pelo menos colegas antes). Duvida? Pense assim: sem o contato via internet, o acúmulo de novidades seria maior, e a sensação de "puxa, há quanto tempo não vejo esse cara" também. Você pode até negar, mas no fundo vai admitir que as pessoas com quem você fala mais no msn são aquelas que você vê todos os dias. Não adianta. A internet não aproximou as pessoas distantes, apenas as tornou ignoráveis.

Portanto, se não for um grande sacrifício, faça um esforço para falar com aquele desconhecido que puxou assunto com você. Mesmo que ele não tenha sido o seu amigo de peito no passado. Quem sabe ele não pode vir a ser agora? Grande sacrifício esse hein?

P.S.: Se você já faz isso, parabéns. Continue assim.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ashes (filosofia)

(A partir de hoje, estou de volta a ativa)

Cinzas. Pode parecer dramático, mas é tudo o que sobra no final. Ao ver uma fogueira queimando, nos deparamos com o esplendor do fogo, consumindo tudo a sua volta com fome destruidora. Não dura muito até que, da chama incandescente e acolhedora, restem apenas cinzas.

É o mesmo para tudo mais na vida. Amores, amizades, momentos de alegria, de ternura. Toda chama queima no calor do momento e das relações humanas, mas o tempo não demora até extirpar-lá, e então tudo vira cinzas.

Talvez devessemos nos perguntar por que precisa ser assim. Por que tudo deve acabar um dia? Ainda metaforizando como o fogo, por que a chama deve se apagar? Olhando melhor para o fogo, é fácil ver que ele já foi usado tanto para o bem quanto para o mal. Sua chama é ao mesmo tempo protetora e destruidora, aquecedora e carbonizadora. Tudo depende da medida com que utilizamos, mas, independente da quantidade usada, ela acabará.

Talvez então, seja assim mesmo. Após a incessante busca pelo equilíbrio, tudo aquilo pelo que lutamos e buscamos, acaba. Simplesmente acaba. Não estou me resumindo as relações humanas leitor, espero que você também compreenda a extensão da metáfora: todo o seu legado aqui na terra, acabará. Todos os feitos que você realizou, possivelmente serão esquecidos. O próprio Universo, em um período incomensurável para nossa mente, virará um grande vazio cósmico.

Talvez você seja religioso leitor, e considere nossa vida aqui uma passagem. Nada disso o impede de ver que o que estou falando aqui é verdade. Sua presença, ao menos nesse mundo, terminará.

Então... O que fazemos agora? Simples: terminamos a metáfora. O fogo queima, se extingue, e vem as cinzas. Mas as cinzas não são o fim. Mesmo a mais carbonizada das cinzas, ainda pode conter uma brasa incandescente que, com o local apropriado, recomeçará a queima da chama novamente.

Espero que, nesse ponto leitor, você tenha compreendido o que eu quero dizer. Tudo vira cinzas. Mas as cinzas não são o fim. Elas são o passo necessário para o recomeço. Elas carregam a brasa que irá queimar novamente. Não tem a fênix, a capacidade de renascer das cinzas, só para começar a crescer de novo? Não tem o homem, a certeza que seu legado irá acabar, mas apenas porque outros irão herdá-lo e carregá-los agora como se fosse seu?

Tudo acaba. Mas isso não quer dizer que de fato acabou. Seus filhos irão carregar consigo a brasa da sua vontade, que nas mãos dele poderá se tornar uma nova chama. O universo acabará, mas, até onde se sabe, ele surgiu do nada. O que o impede de fazê-lo de novo? Não há fins meus amigos. Há apenas novos começos.


"We are ashes, and to ashes we shall return, and from ashes we shall reborn"