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domingo, 6 de novembro de 2011

Achievements

As pessoas hoje vivem a vida colecionando "achievements".

Traduzindo de maneira meio irregular, "achievement" significa conquista, façanha, ou mesmo "feito heróico". É um termo muito usado em jogos de RPG online ou de videogame. Toda vez que seu personagem realiza alguma coisa nova ou espetacular ele pode receber um achievement - seja isso salvar todos os aldeões do perigo iminente sem usar qualquer arma ou matar o rei de maneira particularmente sorrateira - e ainda ganhar reconhecimento por isso.

Qual a relação disso com a vida real? Bom, muita, de certo. É comum ver as pessoas buscando fazer algo pelo simples fato de ser completamente inédito para elas - ir em uma montanha russa, pular de bungee jump ou mesmo comer em um boteco sujo - e não necessariamente porque é divertido ou emocionante, mas simplesmente porque ainda não foi feito.

É bem verdade que várias ideias novas e instigantes costumam chamar mais a atenção, mas é curioso como há um repúdio as ideias velhas. Comer no mesmo restaurante é entediante, jogar monopoly com a família toda sexta a noite é cansativo, ouvir as mesmas 150 músicas gravadas na memória do ipod já encheu. Será mesmo? É uma comparação relativamente estúpida, mas eu não costumo rever um filme que eu já assisti (a menos que não tenha nada melhor pra fazer). Entretanto, comprei Batman: O Cavaleiro das Trevas - que eu já havia visto - para assistir de novo. Foi ótimo. Havia muita coisa que eu não tinha pego da primeira vez que vi o filme, e ficou bem melhor na segunda.

A comparação acima é relativamente estúpida porque eu só repeti o processo uma vez, ao contrário de, por exemplo, assistir batman toda quarta-feira a noite. Mas há coisas que eu repito com fidelidade canina. Por exemplo: assistir Hércules, o filme da disney. Sempre que eu vejo que está passando, eu assisto novamente. Eu conheço praticamente todas as piadas, sei de cor as músicas e conheço a história do começo ao fim. E isso não me impede de ver de novo. Quando vou no McDonalds vez ou outra eu experimento algum sanduíche novo, mas eu diria que uma segura maioria das vezes eu vou de BigMac ou McCheddar. Por que? Porque me agrada. Não que os outros sanduíches sejam ruins, mas eu gosto do sabor desses dois em especial.

Eu não discordo de pessoas que estejam buscando novas experiências. Eu só não vejo sentido em buscá-la só porque é nova. Se, eventualmente, te chamarem para ir a um parque de diversão para curtir uma montanha russa, me avise quando que eu vou também. Mas ficar desesperado para ir a um parque só porque nunca foi em uma montanha russa? Isso é paranóia. Existem infinitas experiências para se viver ao longo da vida, e você provavelmente morrerá sem ter experimentado todas elas. Revisitar uma velha praça, reler um antigo livro, caminhar pelo mesmo caminho ainda são experiências válidas. Repetir a dose não é necessariamente ruim, e mudá-la não é necessariamente bom.

Na minha concepção, a vida não se trata de já ter ido pra disney, já ter perdido a consciência de tanto beber em uma festa, ou ter quebrado o braço quando era criança. A vida se trata de aproveitar as oportunidades e, algumas vezes, tomar as iniciativas. Não fazer algo porque é novo, mas fazer porque é bom.

Achievement unlocked - To finish a post in time predicted

sábado, 20 de agosto de 2011

Heróis

A humanidade precisa de símbolos. Seria até mais apropriado dizer: a humanidade desenvolve seus símbolos. Com isso eu quero dizer que uma forma interessante de comunicação social que temos é a referência mútua a símbolos familiares que só tem significado para as pessoas que atribuíram valores a esses símbolos.

Um exemplos simples seria o comandante. Um comandante pode se tratar de um posto efetivo nas forças armadas, e é um cargo que traz consigo muitas responsabilidades. Ao se referir a alguém como "comandante" você deixa claro que toma a pessoa em alta estima, pois o símbolo do comandante, como homem de poder e de tomada de decisões, fica claro para todos (semelhante aos homens influentes que eram tratados por "coronéis" após a Proclamação da República).

A figura do comandante.

Podemos dizer com alguma segurança que um símbolo não existe por si só, mas que só demonstra seu real valor nas interações sociais. Existe até um nome para isso: interacionismo simbólico. Esta é
"uma abordagem sociológica das relações humanas que considera de suma importância a influência, na interação social, dos significados bem particulares trazidos pelo indivíduo à interação, assim como os significados bastante particulares que ele obtém a partir dessa interação sob sua interpretação pessoal."
- Wikipedia é nóis
Simplificando, uma interação social não é importante somente pelo que é dito ou feito, mas por como a outra parte participante da interação entende aquilo que é dito ou feito.

Cada um de nós tem uma histórico de significados e valores que desenvolvemos e modificamos ao longo de nossas vidas. Cada um de nós tem símbolos. Salvaguardando contextos mais maliciosos, fazer referência a um dragão costuma ser uma exemplificação de força e poder. Conhecidos pela mais diversas culturas, essas criaturas bestiais já tomaram muitas formas, mas todas tem em comum a capacidade de destruição em massa, ainda que possa agir como uma besta irracional ou como um ser de grande sabedoria. Portanto, eu arriscaria que dragões costumam ser um dos símbolos mais invocativos que permeiam a cultura humana.

Não é a toa que histórias com essas criaturas tornam-se tão populares e atraentes.

Dragão: um dos símbolos máximos de poder.

Voltando ao foco principal, eu comecei dizendo que a humanidade precisa de símbolos, e depois me auto-corrigi. Mas as sentenças não são mutuamente exclusivas. É verdade, a humanidade desenvolve seus símbolos. Porém, assim como nós os desenvolvemos, acabamos por nos tornar dependentes deles.

E então temos o herói. Seria tolice desconsiderar a importância fundamental que os heróis tem em nossa sociedade. Não me refiro a instrumentos de propaganda ou entreterimento simples e trivial. Com efeito, estas duas últimas funções derivam do verdadeiro papel que o herói representa em nossa sociedade: a identificação pessoal. Heróis (e aqui eu incluo os bem conhecidos "super-heróis") são símbolos supremos da necessidade humana de possuir um modelo a ser seguido. Nós gostamos de heróis quando nos identificamos com eles, quando vemos neles um espelho utopizado de nossos ideais, gostos e vontades. Gostamos porque eles nos inspiram.

Um homem quer atuar como um herói. Quer sentir a importância de seus atos e de suas atitudes, ainda que tragam consigo difíceis decisões. Na mitologia grega, heróis eram seres semi-divinos, filhos de deuses e humanos, capazes de façanhas épicas. Enfrentavam mosntros (incluindo dragões) e os derrotavam mediante a combinação de suas capacidades antinaturais e de sua natureza humana. É justamente dessa mistura complexa que nasce a identificação.

Hércules, filho de Zeus.

Notem que o homem comum não possui as capacidades antinaturais e, portanto, não pode atuar como faria o herói. Porém, ao conservar a natureza humana, o homem pode se identificar e, de modo análogo, ser um herói na sua esfera de atuação. É por essa razão que os ideias e valores de um herói são tão importantes para o sucesso do mesmo. Só assim seremos capazes de nos identificar com ele.

Por fim, o herói é também um símbolo para interações sociais. Talvez um dos mais importantes. Quando vemos um outro alguém capaz de agir e se portar como um herói, esta pessoa, para nós, torna-se um herói. Lembre-se que um símbolo é tão poderoso quanto o significado que atribuímos a ele. Portanto, não importa se um indivíduo é incapaz de derrubar prédios, conter desastres naturais ou combater aberrações titânicas. Se ele é capaz de mostrar seu valor e significado, capaz de acreditar e seguir seus ideais, esta pessoa é tão digna de ser chamada de herói quanto um Hércules, ou Ulisses, ou Superman.

Portanto, heróis existem. Só precisamos saber reconhecê-los.

Fontes principais:

Interacionismo simbólico

Herói

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Pontas soltas

Quando se começa a pensar em um projeto, em um trabalho, a especulação é livre. Imagine, tente, prossiga, falhe. Falhar não é a pior parte, apesar de não ser gratificante. A pior parte vem quando se obtêm sucesso.

Por que?

Porque, a partir de agora, você está limitado. Seu sucesso te força a seguir um caminho, uma trilha de investigação, um rumo. A partir do momento que você tem alguma ideia do que deve ser feito, você não pode mais arriscar livremente. Você deve seguir conforme o planejado, pensar dentro daquilo que você desenvolveu.

Imagine um escritor que está a ponto de começar um livro. A folha em branco a sua frente lhe permite infinitas possibilidades. Até o momento em que ele começar a escrever sua história. Talvez um conto de suspense, ou um conto de ficção científica. Uma perseguição policial, uma história de cowboys. Limitado, limitado, limitado. Ele pode voltar atrás. Pode apagar, pode destruir. Ele terá de volta então todas as suas infinitas possibilidades. Mas, a partir do momento que recomeçar a colocar as palavras no papel, as barreiras lógicas e limitantes o impedirão de ir além.

Não se coloca tanques de guerra em uma história de cowboys. Não se coloca magos em uma história de ficção científica. Não se coloca monstros num romance policial. Ou se coloca? Ainda que queiramos extrapolar, pensar fora da caixa, arriscar alguma tentativa insólita, ainda estaremos limitados. Pois, a partir desse momento teremos de lidar com a lógica misturada, um tanto inconsistente, da nossa combinação improvável.

E é nesse momento que se mostram os gênios.

Uma história, um projeto, um modo de pensar e desenvolver não consiste somente com o que inicialmente extrapolamos, mas com o que viemos a pensar em seguida. Quando a mente está livre, quando estamos face a face com o terrível paradoxo de nos limitar mentalmente ou continuarmos fascinados com as possibilidades, é a partir desse momento que estaremos comprometidos. Comprometidos com a coerência, com o sentido, com a continuidade. No mundo fantástico das ideias, tudo é possível e tudo é considerado. Todas as ideias existem e se fortalecem, alimentadas pelo consciente inconsciente humano.

Pois bem, estou me demorando, o que a de genial em manter a continuidade? É simples. Ao pensarmos algo, ao elaborarmos uma ideia, ela vem aberta, pura, com suas inúmeras facetas e características a serem exploradas, testadas, verificadas. E então? E então vem o sucesso, e nós progredimos com a ideia, agora presos a ela inevitavelmente pela nossa necessidade de desenvolvê-la, verificar seu alcance, sua magnificência. E, a partir de então, devemos elaborá-la, refiná-la, torná-la física por que não dizer? Retirá-la do plano imaginativo e trazê-la viva, pulsante, para cá. Para o mundo real.

Mas, como já dito, isso a define. E, com uma ideia definida, pouco podemos fazer a não ser desenvolvê-la do modo mais coerente e sensato que consigamos inteligir.

É nesse momento crucial de elaboração, de desenvolvimento, que devemos tomar cuidado. A cada passo novo que damos a fim de moldar nossa ideia, devemos nos atentar a desvios, a pontas soltas, a vazios lógicos injustificáveis por si mesmos. A inconsistência é a morte da ideia. Como mantê-la viva? Amarrando todas as pontas.

A partir do momento que nos comprometemos com nosso imaginário, do momento em que definimos o rumo a ser tomado, estamos comprometidos com as possibilidades. Um filme de cowboy pode ter tanques de guerra, mas como explicá-los? O que tornará sensato a presença de tanques de guerra em um filme de cowboy? Conclusivamente poucas coisas. Entretanto, se quisermos manter possibilidades a primeira vista absurdas válidas, devemos mantê-las firmemente conectadas. Devemos dar razão a aquilo que foi pensado. Devemos um sentido.

Por isso, no momento crucial, na hora em que devemos definir como a ideia sairá do papel, nós devemos nos comprometer. Nos comprometer em articular o todo, em amarrar as pontas soltas. Uma ideia viva, pulsante, pode vir para cá em qualquer forma. Contudo, só será mantida aqui com o correto delineamento, com a estratégia mais eficiente de explorar suas possibilidades. E é nesse quesito que nós devemos nos esforçar. Só assim seremos gênios.

domingo, 24 de julho de 2011

Mais do mesmo

O blog voltou. E bem diferente.

Para começar, acho que eu estava sendo muito pretensioso com o título do blog. "Filosofias" parecia inapropriado. A bem da verdade, a maior parte das minhas postagens tratava-se da minha opinião pessoal. Uma filosofia deveria retratar um longo desenvolvimento de um raciocínio lógico argumentativo, embasado em premissas passadas assumidas de construções anteriores feitas por si mesmo ou por outrem. Tentando dizer sem firulas: a filosofia é mais refinada.

Agora o porquê de eu ter aderido a mudança: meu plano inicial era postar coisas com base nos raciocínios de grandes filosófos, e só com base nisso. O problema é que a leitura do material desses filósofos é algo que toma tento e exige memória (coisa que eu, infelizmente, não tenho). Para que não ficasse para todo sempre estagnado, eu resolvi reformular e aceitar de uma vez o que meu blog já era de fato: um blog de opiniões. Não que isso tire o mérito de posts anteriores. Opiniões não só podem como comumente devem vir embasadas, seja em raciocínio lógico, seja em experiência de vida, seja em bom senso.

Portanto, a partir de agora, estarei dando opiniões. Sujeitas a julgamento, críticas, análises, rejeições, etc. Tudo que fazemos no dia-a-dia quando ouvimos alguém falar.

Quanto as outras séries do blog, direi quais pretendo manter:
  • Frase marcante
  • Imagem (essa seção do blog é fundamental)
  • Sugestão de jogo
  • Música Inesquecível
  • Em defesa do RPG (sim, vocês não se verão livres dessa)
  • Tlec tlec tlec (na medida do possível)
Qualquer outra seção do blog está oficialmente cancelada. A antiga marcação "filosofia" virá agora como "opinião".

Agora quantos aos textos e microtextos. A partir de agora tentarei ser mais comprometido com o que eu postar, no sentido de pensar bem, elaborar bonitinho, buscar referências (e não entendam isso só como referências acadêmicas, podem ser gibis, livros, revistas, etc.) e pensar em alguma estratégia legal de formatação. Acontece que isso demanda tempo. Ou seja, minha frequência de posts, não só pela faculdade e outras coisas que faço, diminuirá. Os microtextos eu pretendo manter como estratégia pra fazer um breve comentário, algo interessante que eu acho que valhe a pena tratar. Só.

Quanto a posts estranhos e randômicos, é provável que eles continuem. Ninguém consegue seguir a mesma linha sem pisar um pouco fora dela.

That's it.

sábado, 2 de abril de 2011

Morte.

Venho anunciar a morte oficial desse blog.

Antes que alguém fale "ahá, filho da mãe, sabia que você iria desistir". Não é isso cabeção. Esse estilo de blog será abandonado. Eu tive uma ideia e pretendo segui-la.

Novidades em um futuro breve (ou não).

segunda-feira, 14 de março de 2011

Sugestão de jogo

(Ressuscitando um dos estilos de postagem desse blog)

O jogo que vou passar se chama Doodle Devil. Basicamente você combina dois elementos para tentar formar um novo e, para cada novo elemento formado, você forma mais e mais até completar todos. Os elementos são separados em categorias que precisam ser liberadas. É bem autoexplicativo, vocês verão. E, para mostrar como Steve Jobs está dominando o mundo, tem também como aplicativo para Ipods.

Jogo - Doodle Devil
Link - http://armorgames.com/play/7384/doodle-devil

Enjoy.

sábado, 12 de março de 2011

Bum-ba-da-bum-bum-bum

Caminha. Bum-ba-da.
Estuda. Bum-ba-da.
Cresce, vive, aparece. Bum-ba-da-bum-bum-bum.
Desestresse. Bum-ba-da.

Faça, refaça, caminha contra a massa (bum-ba-da), está muda? Estuda! (bum-ba-da), espere, recupere, não se altere (bum-ba-da-bum-bum-bum). Esqueceu? Se fo...sse eu (bum-ba-da).

Ataque! (bum-da-da), flanqueie! Golpeie! (bum-ba-da), defende! Compreende! Não vê que o perigo se estende?! (bum-ba-da-bum-bum-bum). Morreu?

(bum-ba-da)

Atire! Inspire! Conspire! Expire! (bum-ba-da). Não pare, repare, compare, dispare! (bum-ba-da-bum-bum-bum).

Cansou? (bum-ba-da)

Baboseira. Besteira. (bum-ba-da) Apenas vá! Ou não vá! Ou se vá! Fique pra lá! (bum-ba-da-bum-bum-bum). Acordou? Despertou? Se tocou? (bum-ba-da)

A ficha caiu? A esperança sumiu? O elo partiu? (bum-ba-da) Não?! Então siga! Prossiga! (bum-ba-da). Cresça! Amadureça! Como?! Obedeça!

(bum-ba-da-bum-bum-bum)

Esquecer (parte 2 de 4)

Alguém muito importante se foi. Para sempre.

Partiu e se perdeu no seu imaginário de lembranças que, distorcidas pelo tempo e pela memória, só tornam a experiência de relembrar ainda mais dolorosa. Ninguém quer relembrar. Viver no oceano de armarguras que se formou em torno da sua saudades. Qual o próximo passo? Esquecer.

Simples assim? Claro que não. Jamais será fácil, jamais será trivial. Os dias não são e não serão a mesma coisa sem aquela pessoa. Ela partiu, ela se foi. Você talvez nem tenha tido tempo de dizer o quanto ela era especial. Você a via sempre, e ela sempre esteve do seu lado. Mas você não queria expressar o óbvio dizendo: "você é muito importante para mim". Mas às vezes até o óbvio precisa ser dito para que a certeza de nossas convicções se tornem reais.

Não vale a pena pensar no que poderia ter sido. Não vale a pena pensar no que não foi. O caminho do esquecimento é árduo, longo, penoso e dificilmente satisfatório. Você não vai mais se lembrar que aquela pessoa foi, porque ela era tão importante, e o que te fez esquecê-la. Se você tentar se lembrar correrá dois grandes riscos.

Um dos riscos, o menos perigoso, é você não conseguir se lembrar. Você bloqueou aquelas lembranças de modo que elas jamais voltem a te atormentar. Nunca. Você inventou mentiras, plantou memórias, embaçou sua mente para que aquela pessoa não seja mais especial. Para que você não se lembre dela, jamais.

O outro risco, muito mais perigoso, é você conseguir se lembrar. Lembrar porque aquela pessoa era importante, porque ela faz falta, lembrar em como sua vida poderia estar bem melhor com ela presente, naquele momento que você sabia que só ela iria ter a palavra certa a lhe dizer, ou saberia simplesmente não dizer nada.

Portanto a parte mais importante em esquecer alguém não é simplesmente esquecê-la. Mas não tentar se lembrar. Você pode apagar da memória o que aquela pessoa foi, mas se você não apagar também a saudades esta fará você questionar sua atitude, se perguntar porque você esqueceu. E então você estará, inevitavelmente, fadado a encarar um dos riscos dessa atitude.

Será que esse é o modo saudável de passar por isso? Não é provável. Mas para que se possa passar pelo modo saudável, deve-se antes encarar esses sofrimentos, até que algo muito importante aconteça. O que exatamente? Até que você olhe a sua volta.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Saudade (parte 1 de 4)

Quanto vale um dia? 24 horas? 1440 minutos? 86400 segundos? Não. Um dia vale mais do que o tempo que gastamos nele.

Muitos, quando o dia acaba, sentem a sensação de que aquele dia foi jogado fora. Você não fez nada. Você não correu atrás dos seus sonhos, você não solucionou aquele problema que te incomodava, você não disse pra alguém que sentia muito, que foi culpa sua, não disse que amava alguém. Você não parou e sentiu o perfume das rosas.

E quando isso acontece, sempre temos o amanhã. E então podemos mudar o valor daquele dia muito além de 24 horas. Você pode se desculpar, você pode parar e respirar lentamente e dizer pra alguém que ela é a pessoa mais importante da sua vida, sem exageros. Pode começar a ir nas aulas da academia. É, aquela academia que você estava adiando. Você pode mudar o valor do seu dia.

Mas, o que fazemos quando não podemos evitar? O que fazemos quando algo muda permanentemente o valor de nossos dias? Quando tem alguém muito importante na sua vida e, por algum motivo bom ou ruim, ela vai embora? Talvez a resposta óbvia fosse: superar e seguir em frente. Mas isso não é resposta. Não se pode passar por cima das pessoas. Não se pode simplesmente retirar o quanto aquela pessoa importou pra você, para os seus dias. É impossível.

A parte mais difícil dessa situação é perceber que a importância da pessoa não era somente fazer os seus dias valerem a pena. Mas também perceber que a ausência dela tornam os seus ainda piores do que se você jamais a tivesse conhecido. Não podemos sofrer perdas de algo que nunca tivemos. Isso que sentimos, que nos consome por dentro, que nos faz querer ver a pessoa de novo e de novo, que nos faz imaginar como seria se aquele dia nunca tivesse acabado, isso é a saudade.

Sempre nos perguntamos se a saudade é algo bom ou ruim. Isso é uma questão de perspectiva. Na perspectiva da pessoa que está sentindo saudade, é algo terrível. Você simplesmente não consegue tirar a pessoa da sua cabeça, não consegue não querer ela de volta, não para de pensar nos bons momentos passados juntos e nos muitos que jamais irão se realizar. Na perspectiva da pessoa que se foi, é algo bom. Você sabe que foi querida, que foi desejada, que sua presença era um conforto mesmo que para uma única pessoa.

E agora? Bem, se sentir saudades não vai solucionar o seu problema, se o valor dos seus dias não é mais o mesmo sem aquela pessoa, se você simplesmente não pode parar de se lamentar, esqueça-a.