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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

(in)Justo (filosofia)

Em que consiste a justiça? Ignorando definições mais próximas do direito, como "poder judicial", podemos dizer, talvez com um consetimento geral que "justiça" significa igualdade, retidão. Ou, de um outro modo, equivalência. Mas nenhum desses termos parece definir apropriadamente um termo tão banalizado.

"Ele recebeu o que merecia". "Como ele conseguiu isso?". "O mundo não é um lugar justo". Frases comumente citadas, todas se referindo a justiça, ou a algo semelhante. Alguém poderia argumentar que as definições acima se enquadram em tais situações, mas eu discordo. Justiça não é simplesmente igualdade, não é simplesmente equivalência. Justiça é nobreza, não somente equivalência. Talvez pareça a todos que eu incorro a um erro, pois tão difícil quanto definir justiça deve ser definir nobreza, mas definindo "ato nobre" eu me contentaria simplesmente com "a atitude certa a ser tomada quando todas as outras parecem mais fáceis e tentadoras".

Desse modo, ser justo significa fazer o que é certo. É certo matar alguém porque ele matou outra pessoa? É certo justificar um erro comentendo outro equivalente? É certo prender uma pessoa que roubou porque estava passando fome? É certo punir alguém por tentar sobreviver? Questões morais interessantes. A quem cabe a justiça responder. Ser justo não é simplesmente colocar as ações um lado da balança e ver o que pode equilibrar do outro lado. Justiça não é fazer ao outro o que ele fez a alguém. Isso é estupidez. Ser justo é ser capaz de olhar todas as implicâncias da situação e dar a solução mais nobre, mais correta.

O que é então "a solução mais correta"? Aquela que não somente julga alguém pelo que essa pessoa fez, mas o porquê dela ter feito. Aquela solução que busca se ver nos olhos da pessoa, entendê-la, compreendê-la. Não se pode julgar o que não se entende. No entanto, ainda devemos ser capaz de discernir até que ponto devemos fazer isso. Se colocar no lugar de um psicopata iria claramente justificar o seu instinto assassino. Mas uma pessoa doente que pode prejudicar outras não pode ser mantida livre, imune. Cabe a justiça diferenciar as especificidades de cada caso, e concluir o que é certo.

Talvez muitos dos problemas de hoje venham das injustiças que cometemos ao aplicar a justiça como a conhecemos. Se nossas atitudes forem simplesmente atitudes de igualdade para com os atos dos outros, resumimos um ser humano a atos. Esquecemos tanto dos pensamentos quanto do instinto, causa primária de nossos atos. Vamos compreender os outros. Vamos ser nobres. Vamos ser justos.

domingo, 24 de outubro de 2010

Músicas inesquecíveis (8)

Já que está na hora de músicas em português, que assim seja.



Flor de lis - Djavan

Valei-me Deus, é o fim do nosso amor
Perdoa por favor, eu sei que o erro aconteceu
Mas não sei o que fez tudo mudar de vez
Onde foi que eu errei
Eu só sei que amei, que amei, que amei, que amei

Será, talvez, que minha ilusão
Foi dar meu coração com toda força
Pra essa moça me fazer feliz
E o destino não quis
Me ver como raiz de uma flor de lis
E foi assim que eu vi nosso amor na poeira, poeira
Morto na beleza fria de Maria

E o meu jardim da vida ressecou, morreu
Do pé que brotou Maria
Nem margarida nasceu

sábado, 23 de outubro de 2010

Sobre vacas e carneiros (filosofia)

O homem tem uma maneira curiosa de adquirir conhecimento. Nós supomos, experimentamos, vemos os resultados e dizemos se era falso ou não. Basicamente as etapas do método científico. De todo modo, a parte que mais interessa é o modo como tudo começa. "Supomos".

O homem vê um fenômeno, um problema, algo que precisa ser explicado. O que ele faz? Inventa. Sim, é literalmente isso: nós inventamos uma explicação. Claro, a explicação costuma ser baseada em conhecimentos prévios (o que levanta uma questão: em que foi baseada a primeira explicação? Mas deixemos essa divagação pra depois). Mas, vamos voltar mais um pouco para que possamos entender meu ponto: como o homem faz isso? Bem, eu diria que ele se questiona.

"Como?" "Por que?" "Quando?" "Onde?" "O quê?". A humanidade tem uma grande variedade de perguntas, mas praticamente todas elas podem ser encaixadas nessas cinco perguntas do começo do parágrafo. Qual o problema com isso? Todos e nenhum. Eu demonstrarei que, com essas perguntas, nós teremos sempre um conhecimento infinito a buscar, mas ainda sim limitado ("infinito e limitado?" você deve se perguntar. Fique calmo, vamos devagar).

O ser humano sempre tem mais o que aprender, simplesmente porque tudo que ele descobre para explicar algo, é passível de questionamento. Quando eu digo "passível de questionamento" não quero dizer "duvidoso", mas quero dizer que pode se usar as 5 perguntas para questionar isso. A partir daí teremos que buscar outra explicação. E assim por diante, ad infinitum. Isto é, temos um conhecimento ilimitado para buscar. Onde está a limitação? Imagino que vocês já tenham percebido, mas para deixar tudo bem claro: nas perguntas.

Nossas perguntas refletem são nosso passo-guia, nossa orientação sobre o que buscar. Consequentemente, perguntas limitadas levam a conhecimento limitado. Ou, mais apropriadamente falando, modo de ver o mesmo conhecimento limitado. Nós podemos analisar tudo da melhor maneira que considerarmos, mas estaremos presos a nossas perguntas. Mesmo o fato de eu falar que somos limitados já era previsto na nossa limitação. E o fato de você estar tentando pensar um modo de provar que estou errado também. E o fato de você pensar que deve haver um modo de pensar além dos nossos limites ainda não te tira deles.

Vou esclarecer tudo com uma analogia. Imagine que você está em uma fazenda. Seu objetivo é contar quantos animais tem lá. Entretanto, todos os animais que você vê são carneiros. E toda vez que você conta um carneiro, você percebe que há mais carneiros pra contar, infinitamente. O que você não sabe, é que também há vacas naquele local. Mas, por algum motivo, você é incapaz de ver as vacas e, portanto, de contá-las. Elas escapam ao seu conhecimento de contagem de animais, que se limita a carneiros. Pergunta: você irá parar de contar carneiros? Resposta: não. Pergunta: você irá ver as vacas? Resposta: não. Esta simples analogia demonstra que temos um conhecimento infinito a abarcar, porém limitado.

Bem, bem, bem. Está tudo ótimo até agora, mas acho que há pelo menos dois problemas no meu raciocínio que merecem ser comentados. Um deles é que estou trabalhando com o infinito, uma quantidade imensurável. O ser humano, por mais que diga que pode, não consegue visualizar o infinito, simplesmente pela nossa visão limitada das coisas. Talvez, e somente talvez, não haja conhecimento infinito, embora eu duvide. O outro, e mais sério na minha opinião, é a explicação que resulta da pergunta: por que fazemos perguntas limitadas? Eu digo: porque somos humanos. Vago não? Pois é. Assumindo que somos um animal como outro qualquer, estamos sujeito à mudança através do tempo. Portanto talvez, e somente talvez (embora eu ache muito difícil), nós possamos passar a enxergar as vacas.

Para ver vacas, deveremos deixar de ser o que somos agora (não, não é uma frase com um sentido de sabedoria maior oculto, é exatamente isso que você leu... Entre na metáfora!). Portanto, pode ser que nosso conhecimento limitado se torne menos limitado. Forçando um pouco a analogia, sempre terão animais que você não enxergará, a menos que você seja onisciente. Mas não fiquem pessimistas. Nós ainda temos infinitos carneiros a serem contados.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

3 em 1 (post integrador)

Estou atrasado com alguma das minhas séries aqui no blog, então esse post será um post integrador, é algo que estou testando e se der certo manterei eventualmente (mais uma coisa pra eu lembrar). As 3 séries que introduzirei aqui são "sugestão de jogo", "Em defesa do RPG - parte 6" e uma "filosofia" é claro.

Apenas para situar meus queridos leitores:
- Em defesa do RPG: uma série que, além de defender o RPG e seus benefícios, ensina pessoas não iniciadas as regras e princípios básicos para jogarem. Fiquei devendo raças e classes, então explicarei nesse post.
- Sugestão de jogo: eu costumo sugerir eventualmente um jogo (ou algo parecido) da internet, mas dessa vez será um jogo de Xobx (que estou jogando) para que possa haver uma contextualização.
- A filosofia se baseará na dinâmica do jogo (que é um RPG) e como ele se conecta com nossas vidas.

Antes de lerem, tenham consciência que por ser um post 3 em 1 vai ficar grande. E com "grande" eu quero dizer "se você já não lê meu texto normal e só vem aqui pelas imagens e microtextos, nem se dê ao esforço".

Pois bem, venho aqui tratar de um jogo de videogame em que me viciei e que promete destruir minhas notas na faculdade. Seu nome é Risen.


Como já está indicado na imagem, é um jogo para Xbox 360, portanto talvez nem todos os leitores possam usurfruir dele, mas nada o impede de ler meu post aqui, o qual eu tentarei dar o mínimo de spoilers possível. Infelizmente, terei que contextualizar alguma coisa para que vocês entendam o post.

O enredo de Risen consisite no seguinte: você é um naufrágo que parou em uma ilha (que não é deserta) e acaba tendo que descobrir uma maneira de sobreviver. Ao entrar em contato com a população local em busca de abrigo e comida, você percebe que há um problema na ilha: ruínas de pedra se soergueram do chão, liberando monstros terríveis e tesouros inimagináveis. Imediatamente seguido a esse acontecimento, a Inquisição, uma instituição religiosa, invadiu a ilha e tomou posse de sua cidade sobre pretexto de protegê-la, mas imagina-se que na verdade ela está a procura dos tesouros que se encontram nesses templos.

Antes da chegada da Inquisição, um grupo de lutadores e caçadores, liderados por um homem chamado Don Esteban comandavam a ilha e a "protegiam". O problema de tais homens é que eles se valiam de métodos escusos para proteger os habitantes da ilha: cobravam propinas (ou "taxas de proteção"), assaltavam os próprios moradores da cidade, se associavam a piratas, etc. Com a chegada da Inquisição, Don Esteban se retirou da cidade e foi morar no pântano, onde ele estaria mais seguro e poderia ele próprio explorar as ruínas ao redor para obter sua riqueza. Enquanto isso, no Monastério (local onde antes os magos estudavam, mas que com a chegada da Inquisição se tornou o centro de treinamento dos recrutas da Ordem - outro nome para a Inquisição) a Inquisição protegia a Chama Sagrada - a fonte do poder mágico dos magos, e estudava as ruínas enquanto pilhava suas riquezas.

Pois bem, você de uma hora pra outra se viu no meio desse cenário, e deve agora decidir qual lado tomar: você gostaria de ingressar no grupo de guerreiros e caçadores com ideais duvidosos de Don Esteban? Ou se envolver com os magos e guerreiros da Ordem, cujas atitudes até agora tem um caráter facilmente questionável?


Acho que, pelo que eu falei até agora, deu pra perceber que não há uma "resposta certa". Ambos os lados tem justificativas para que você se associe a eles, e ambos tem comportamentos repudiáveis pelo nosso senso de moral.

Para vocês perceberem como o jogo é bem estruturado, eis um exemplo das razões:

Homens de Don Esteban:
- Eles alegam que a Inquisição mente ao "fingir" que protege o povo, quando seu único objetivo é extratir riqueza das ruínas.
- Eles alegam que a Inquisição "prendeu" os habitantes na cidade (isso de fato aconteceu, ninguém pode entrar ou sair na cidade, mas você vai descobrir um jeito) não com o propósito de protegê-lo dos monstros, mas de impedi-los de explorarem as ruínas.
- Eles alegam que os mercadores da cidade estão levando o povo a miséria, pois estes exigem preços absurdos por seus produtos, inacessíveis a grande parte da população que não vê escolha a não ser vender seus próprios bens para comprar comida.
- Eles alegam serem os "donos por direito" da ilha, pois seus caçadores eram responsáveis pela obtenção de comida, e os lutadores pela proteção. Desse modo todos viviam em paz.

Os guerreiros da Ordem:
- Eles alegam que os homens de Esteban perturbam a organização da cidade com suas atitudes mesquinhas: assaltos, extorsões, etc.
- Eles alegam que a cidade agora está melhor com eles, pois os cidadãos sentem-se verdadeiramente seguros e não tem que pagar nenhuma espécie de "taxa" por isso.
- Aqueles que quiserem ainda podem se voluntariar para a Ordem da Chama Sagrada (o nome completo) como recruta (aprendiz de guerreiro) ou noviço (aprendiz de mago) para contribuir com as ações da Ordem.
- Eles alegam que seu último e único objetivo é, de fato, proteger os cidadãos, pois eles não estão cientes dos perigos que estão por vir. Segundo eles, o erguimento das ruínas é só o começo. Eles são os únicos capazes de impedir males piores, e seus magos estudam como fazê-lo.

Bom, mais motivos e coisas do gênero vocês podem ver no próprio jogo, mas meu objetivo aqui, agora, é mostrar como esse jogo inteligentemente bem programado reflete uma realidade das nossas vidas: escolhemos um grupo pra viver.


Inevitavelmente em nossas vidas, terminamos nos situando em grupos. Às vezes por questões de afinidade, às vezes por circunstâncias, às vezes mesmo por interesses próprios. Escolher um grupo para se manter faz parte da vida em sociedade. Quando se tem um grupo, você já não se torna um indíviduo não-identificável (salvo raras exceções), e sim um membro do grupo X ou do grupo Y. Na escola a separação de grupos sempre mantém alguns estereótipos os quais você pode identificar: o grupo dos populares, o grupo dos bagunceiros, o grupos dos nerds (costumava fazer parte desse, hoje sou do grupo dos "filósofos"), o grupo das minas gatas (esse grupo é sempre uma maravilha), etc. Até mesmo o grupo dos excluídos ainda é um grupo.

Por um lado isso é bom, pois viver em grupo trás consigo suas vantagens. Tais como: confiencialidade (quando você pertence a um grupo desde certo tempo, é de se esperar que exista confiança entre seus integrantes, o que permite a confidencialidade), apoio mútuo (você costuma receber mais suporte das pessoas que já são íntimas de você), praticidade (você não precisa sair de uma "zona de conforto" como costuma fazer quando tenta puxar assunto com alguém que não conhece), compreensão (devido ao contato, as pessoas do grupo já sabem como você é e costumam ser mais tolerantes e razoáveis em relações a atitudes suas que muitas pessoas poderiam desaprovar), etc.

Por outro lado, perde-se algumas coisas ao viver em grupo. Tais como: filantropismo (você se torna o grande "camarada" do pessoal a não pertencer a nenhum grupo, fala com todo mundo, trata todo mundo bem e todos gostam de você - supondo que você não seja um pé-no-saco), opcionalidade (você dificilmente ficará sem ter o que fazer, pois ao conhecer muitas pessoas pode optar por fazer algo com algumas certo dia, e outra coisa com outras outro dia), cosmopolita (você acaba visitando muito mais lugares, conhecendo muito mais gente, e experenciando muito mais coisas do que se vivesse somente com seu grupo específico de amigos), etc.

É difícil por na balança e dizer qual o melhor. Mais por algum motivo a balança sempre pende para formar os grupos. Possivelmente porque as pessoas uma hora se cansam de manter sempre as relações superficiais (o que é muito provável de acontecer quando se conhece muita gente) e acabam se centrando em um grupo de pessoas, pelos motivos que já citei. De certo modo isso facilita nossa vida, embora possamo correr o risco de ser estereotipados como eu já disse. Você não é mais você, você é o estereótipo do seu grupo. Tal efeito acarreta problemas de socialização com outros grupos, pois muitas vezes você é tratado como aquilo que não é, mas como aquilos que as pessoas pensam que você seja.

Entretanto, nem sempre é assim tão fácil. A vida não se resume a escolher Don Esteban ou a Ordem. Você terá que se experimentar, se esforçar, ser compreensivo, até que seja aceito em um certo grupo, ou até que consiga formar um certo grupo (já tratei disso em outros posts). Por mais que alguns possam não asmitir, é confortável viver em grupos. E é o que sempre acontece.


Então vocês se perguntam: será que no RPG existem grupos também? E a resposta, não menos surpreendente é: sim. Não só grupos formados por interesses sociais ou culturais, como em Risen, mas grupos já definidos pelo próprio jogo, em que você se enquadra uma vez e dificilmente poderá mudar (a menos que comece um novo jogo). Tais grupos em RPG são mais diretos, e são chamados de classes. Uma classe clássica do RPG é o guerreiro, e outra é o mago. Ambos estão presentes em Risen, mas com a diferença de que, ao trabalhar para Don Esteban, você se torna um lutador ou um caçador, que são classes do arquétipo combatente (mas não acho interessante entrar em arquétipos agora, por isso só os mencionarei) e ao participar da ordem você se torna um mago (arquétipo conjurador) ou um guerreiro (arquétipo combatente também).

Ainda não sei se é possível mudar de classe ao longo do jogo, mas no RPG de tabuleiro você dificilmente terá essa opção. Uma vez mago, sempre mago, uma vez guerreiro, sempre guerreiro. Pode parecer limitante, mas é simplesmente uma consequência do fenômeno da especificidade: você estuda e se forma em algo específico, para seguir carreira nisso posteriormente. É mais ou menos assim no RPG. Só que sua classe não costuma ser só seu emprego, mas seu grupo (o que acontece muitas vezes na vida real). Magos em RPG costumam viver de fato em templos isolados, ou em grandes academias, como se fossem os acadêmicos de hoje. Eles tomam as lições arcanas para aperfeiçoarem-se na magia, não só seu instrumento de trabalho, mas sua vida. Guerreiros já utilizam mais de suas capacidades físicas e intuitivas, e podem participar de lutas corpo-a-corpo (como gladiadores e bárbaros), ou podem ser mais sutis, e se valer da distância (como arqueiros e besteiros).

O conceito de raça em RPG é quase o mesmo que se pode traçar no mundo real. Corretamente falando (no mundo real), raças são subespécies. Isto é, são grupos menores dentro da espécie, que apresentam variabilidade e características suficientemente diferentes entre si para serem assim caracterizados (imagine os cachorros - poodle, pequinês, pug, chowchow, dobermann & cia ilimitada). Mas no RPG, raça é usado como espécie mesmo. Ou seja, existem os humanos, os elfos, os anões, os halflings, os goblins, os orcs, etc. Até onde eu vi, Risen só conta com humanos e orcs. É importante lembrar também que, RPGísticamente falando uma "raça" só pode ser assim considerada se o ser que se está enquadrando é consciente. Seres sencientes não são raças em RPG, são monstros ou animais (salvo exceções, como dragões - que poderiam até ser considerados uma raça).

No RPG também existe, digamos, os "vira-latas" do mundo dos cachorros. Mestiçagens entre algumas raças não são só viáveis como também consideradas novas raças: meio-orc, meio-elfo, etc. Ao jogar RPG, uma das primeiras coisas que terá de escolher é sua raça, pois cada uma apresenta vantagens e desvantagens e bônus específicos nos atributos (explicarei no meu próximo post o que são os atributos). Ou seja, primeiro você define o que você é, para definir quem você vai querer ser (ao escolher sua classe).

Então não confundam: raças são espécies auto-conscientes (no RPG) e classes são grupos, ou "profissões" por assim dizer que você poderá escolher uma para trilhar. Afinal, como no mundo real, o RPG também conta com seus grupos. Decida de qual você quer fazer parte, e divirta-se jogando!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Onisciente (filosofia)

Apesar de pensar que tal ativididade é incrivelmente insensata, é impossível recusar-me a disposar dela sempre que me sinto atraído. Imagine-se onisciente.

Você sabe tudo. Absolutamente.

Você sabe o que vai acontecer, o que está acontecendo e o que pode acontecer. Se são adeptos do livre arbítrio como eu, você sabe todas as possibilidades de ocorrência de todos os eventos.

Você é capaz de alterar o futuro a seu bel-prazer, pois sabe as ações certas a empenhar. Mas você sabe mais do que isso. Você sabe o sentido da vida. Sabe o que é o universo. Sabe até o que falar pra pegar aquela gostosa na festa que jamais olharia pra sua cara (e sabe como ela vai ser na cama, se "ela" realmente é "ela" e outras coisas mais...).

Você pode não ser onipotente, mas sabe como se tornar (ou ao menos sabe se é possível ou não se tornar).

Você é possuidor de características paradoxais: você sabe como é não ser onisciente, como é que se sente um ser não onisciente e saberia como se tornar não-onisciente (mais uma vez: se isso fosse possível).

Você é, nas palavras de Raul Seixas que eu invoco mais uma vez: a luz das estrelas, a cor do luar, as coisas da vida, o medo de amar. Você foi, você é, você será.

Resumindo: que saco ser onisciente. Imagino que um ser onisciente não precisaria mais se manter na nossa condição humana. *bocejo*. Muito pouco desafiador.

Ovo ou a galinha?

Afirmar que um dia conheceremos tudo é tolice. Afirmar que não sabemos nada é igualmente tolice. "O que sabemos é o que podemos medir", máxima popularizada por muitos físicos hoje. Eu diria que o que realmente importa não é o que sabemos, mas sim o que queremos saber.

O homem é ambicioso, e embora a ambição não seja o ponto desse post, é impossível não mencioná-la. Na nossa ambição, queremos entender tudo a nossa volta, queremos saber de onde viemos, para onde vamos, o que somos nós. Embora essa pareça uma ladainha repetitiva há muito utilizada, eu não podia deixar de mencioná-la antes de introduzir o assunto desse post. Tais questões acima, jamais serão respondidas, ao menos de forma satisfatória. Não, não é incompetência dos cientistas que se esforçam dia-a-dia para desvendar os mistérios do universo e, de tabela, da nossa origem. Simplesmente as perguntas jamais cessarão.

Até onde pude acompanhar sobre a origem do universo, supõe-se que ele se originiou de uma inflação superluminal (acima da velocidade da luz) do espaço e, devido a uma assimetria que não me recordo ao certo, o tempo começou a rodar após o surgimento da matéria. Não sou a melhor pessoa para tratar sobre o assunto, mas posso dizer que, aparentemente, o big bang não foi o começo. Na verdade o que se sabe antes dele são especulações, mas especulações que fazem sentido (ou seja, explicam o mundo em que vivemos).

Parece loucura talvez falar isso acima, mas também o era dizer que a Terra era redonda há alguns séculos atrás. Que ela não era o centro do universo então... Mas de todo modo, tais explicações não vão nos saciar. Não que faça algum sentido perguntar "o que havia antes do espaço e do tempo?" Se não havia tempo, não havia antes. Se não havia espaço, não havia o que haver. Por acaso isso satisfaz alguém? Certamente que não. Continuaremos elaborando perguntas: como é possível não haver espaço? Será possível construir uma região de "não espaço"? O tempo é capaz de ser interrompido? Se uma época não houve tempo e espaço, o que fez com que eles surgissem? E esse efeito que os fez surgirem, o que o fez surgir? Se não havi tempo, como algo pode "surgir"? De certa forma perguntas intrigantes.

O que eu quero trazer aqui não é um pensamento negativo sobre o conhecimento supremo, que eu acredito nunca será alcançado. O fato de nunca ser alcançado é bom, pois nos instiga a continuar sempre procurando, sempre investigando, sempre querendo saber mais. É difícil abstrair algo como a ausência de tempo e de espaço. Estamos tão conectados a esses conceitos, tão imersos neles, que o simples pensamento sobre isso é difícil, vem um vazio na mente (o que ainda seria errado, pois "vazio" ainda implica espaço - só pode ser chamado de vazio aquilo que pode ser preenchido - e nem isso havia). Mas vamos deixar isso nos desencorajar? Jamais! O intelecto humano é capaz de progredir mesmo que a lógica não se torne tão direta (e ainda farei comentários sobre intelecto e lógicas não diretas em outros posts futuros).

Ao pensarmos na questão clássica sobre "o ovo ou a galinha", sobre quem veio primeiro, voltamos a questão de origem, que está relacionada diretamente com a questão de futuro (precisamos olhar para trás para compreendermos o que vem pela frente). E é isso que fazemos todos os dias, e é isso que alguns cientistas fazem em escala colossal. Vamos parar? Não. Vamos chegar a uma resposta final? Improvável. O que fazer então? Continuar procurando.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Auto-limitante (filosofia)

É engraçado como costumamos nós mesmos nos auto-limitar. E fazemos isso não por intenção, mas por pressão, ou por descuido.

Como nos auto-limitamos? Essa é uma questão divertida, porque a nossa limitação decorre de nossa própria reflexão temerosa sobre aquilo que estamos fazendo. Como assim? É simples. Imagine que você tem que se apresentar para o um público extenso. Naquele momento você está seguro, confiante, sabe o que vai falar e como vai falar. Entretanto, nesse momento de extrema paz interior, lhe ocorre um pensamento demoníaco: "e se eu ficar nervoso?". Pronto. Tudo foi pelos ares.

Se nós não perguntássemos "e se" nessas situações, não incapacitariamos a nós mesmos naquilo que estamos fazendo. Ainda não se convenceu? Então que tal um exemplo ainda mais comum: você está estudando, incrivelmente concentrado e interessado no assunto, até que você pensa: "e se eu não conseguir me concentrar?". Mais uma vez, seu pensamento se volta contra você, e até os veios da madeira da mesa que você estuda passam a se tornar mais interessantes do que o que você estava lendo.

Contra tal limitação, há poucos remédios que eu saiba. Um deles é a indiferença. Ignorando o que você pensou você é plenamente capaz de continuar sem se limitar. Outro é tentar se esquecer. Esse é bem difícil e, particularmente, se torna eficiente quando você turbilhona um monte de ideias ao mesmo tempo para ver se tal pensamento se afunda no limbo da sua mente. Acima de todas essas técnica está o auto-controle, o arqui-inimigo da auto-limitação (acho que os hífens estão de acordo com a nova reforma). Se você for capaz de sobrepujar tal pensamento, você é capaz de impedir sua própria limitação.

Como adquirir o auto-controle? Bem, imagino que confiança seja a chave, assim como força de vontade. Mas eu particularmente penso que há um terceiro fator: o quanto alguma atividade lhe agrada. Se você adora ler livros do... Harry Potter... Mesmo que você pense "e se eu me desconcentrar?" você possivelmente se manterá concentrado devido ao grande prazer que tal atividade confere a você.

Bom, isso é tudo, mas será que vocês se perguntaram se eu me perguntei "e se esse post não ficar legal?". Bom, saciando a curiosidade de vocês: sim, eu me perguntei.

sábado, 2 de outubro de 2010

Teoria da conspiração

"O homem nunca pisou na lua". "Extraterrestres já existem entre nós desde os tempos antigos, na verdade nossa cultura evoluiu graças a eles". "Existe um Evangelho escrito por Jesus, mantido em segredo pela Igreja Católica desde a época dos templários". "Ponce de Leon de fato encontrou a fonte da juventude, e hoje ele ainda vive entre nós". "O triângulo da bermudas é uma das bases de operações dos alienígenas na Terra". "O atentado de 11 de setembro não só era do conhecimento do Governo dos EUA, como foi planejado por ele". "O mesmo Governo dos EUA está preparando abrigos nucleares com toneladas de alimentos, porque eles sabem que o mundo acabará de fato em 2012". A verdade está lá fora. E a verdade é que é preciso ser muito estúpido pra acreditar em alguma coisa dessas.

Como surge uma teoria da conspiração? Ou melhor, por que surge uma teoria da conspiração? Eu diria que há três razões.

A primeira seria a necessidade humana de mitificar as coisas. Em um mundo cada vez mais cético, em que o espaço para mistificações e acontecimentos inexplicáveis vem sendo comprimido ao ponto de não sobrar nada, as pessoas mais inventivas constroem cenários hipotéticos em que tudo isso ainda faz sentido, em que o "inexplicável" ainda existe e não perdeu o seu charme.

A segunda seria simplesmente ignorância. Com o avanço das ciências e a falta de tato da maioria dos cientistas para lhe dar com o público leigo (isso é um fato) e ainda a despreocupação dos mesmos em ver como sua ciência acaba sendo deturpada pelos meios de comunicação e divulgação científica, os mais mal-informados ou charlatões valem-se da ciência como ferramenta prática para construir suas teorias. "O governo dos EUA trabalha na construção de seres humanos geneticamente modificados, mais resistentes, mais fortes, etc.". É realmente muito X-men. A manipulação genética, a nível humano, ainda é uma realidade consideravelmente distante e, mesmo quando possível, é improbabilíssimo que seja não só permitida, como também funcional. Simplesmente não há genes "bons" ou "ruins". De fato existem mutações que vem a causar problemas, mas não existe o "gene da superforça" o "gene do não envelhecimento" o "gene da resistência ao frio e ao calor".

A terceira e talvez mais paradoxal razão é a vontade humana de saber a verdade. Muitos podem dizer que não gostam de ouvir sobre a vida dos outros, não é da conta deles, etc. Mas, salvo raras exceções, a maiorias das pessoas sentem um "gostinho de vitória" quando fica sabendo um segredo que poucas pessoas sabem. Uma "verdade" que ela compartilha com algumas poucas pessoas. Pois bem, eleve essa necessidade a escala global e temos teorias de conspiração, cujo um dos intentos é fazer com que as pessoas que acreditem nela sintam-se "superiores" ou "satisfeitas", pois elas conseguem ver a "verdade" tão óbvia que muitos ignoram. Tais pessoas sentem a necessidade de acreditar que HÁ algo por baixo dos panos, e que só elas conseguiram destrinchar o que era, mas é tão inacreditável que poucos a apoiam. Bom, poucos apoiam não por ser inacreditável, mas por ser estupidez.

Agora sim vejo que seria apropriado se perguntar como surgem teoria das conspirações. Para que o post não fique muito extenso vou tentar ser sucinto nessa parte. Basta misturar alguns elementos: uma verdade que "abalaria o mundo se revelada", a "ciência avançada" que poucos tem conhecimento da existência costuma ser utilizada, elites mundiais (escolha um: maçons, illuminati, o Vaticano, o Governo dos EUA, os templários, os ocultistas etc.) que detem tal verdade e a utilizam para seus fins escusos e, como cereja do bolo, a incerteza sobre os detalhes específicos de qualquer coisa, a única certeza é que existe. Pronto, eis que nasce uma teoria da conspiração. Quanto mais grandiosa uma teoria da conspiração, mais trouxas... quer dizer adeptos ela consegue arrebanhar. Ninguém quer saber sobre "os pães mofados que são vendidos como fresquinhos na padaria do Seu Joaquim". Portanto, outra característica marcante de teorias da conspiração é que elas costumam ser globais, ou mesmo universais (quando envolvem nossos amigos extraterrestres).

Enfim, isso nos faz pensar como, ao mesmo tempo que parecemos avançar a passos largos cientificamente e tecnologicamente, as pessoas se tornam mais suscetíveis ao poder desinformativo que ronda pelo mundo. Tornam-se suscetíveis as suas necessidades de mistificar, de "conspiracionar" as coisas. Para combater tal mal, só há um remédio: o poder da boa informação e do ceticismo. Não estou me referindo ao ceticismo extremo, mas a não ser tão crédulo a ponto de acreditar em histórias absurdas, mesmo que bem contadas. Mas para ser completamente sincero, eu acredito que possa haver uma teoria da conspiração no mundo: a teoria da conspiração que quer fazer com que as pessoas acreditem em teorias da conspiração.