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sábado, 20 de agosto de 2011

Heróis

A humanidade precisa de símbolos. Seria até mais apropriado dizer: a humanidade desenvolve seus símbolos. Com isso eu quero dizer que uma forma interessante de comunicação social que temos é a referência mútua a símbolos familiares que só tem significado para as pessoas que atribuíram valores a esses símbolos.

Um exemplos simples seria o comandante. Um comandante pode se tratar de um posto efetivo nas forças armadas, e é um cargo que traz consigo muitas responsabilidades. Ao se referir a alguém como "comandante" você deixa claro que toma a pessoa em alta estima, pois o símbolo do comandante, como homem de poder e de tomada de decisões, fica claro para todos (semelhante aos homens influentes que eram tratados por "coronéis" após a Proclamação da República).

A figura do comandante.

Podemos dizer com alguma segurança que um símbolo não existe por si só, mas que só demonstra seu real valor nas interações sociais. Existe até um nome para isso: interacionismo simbólico. Esta é
"uma abordagem sociológica das relações humanas que considera de suma importância a influência, na interação social, dos significados bem particulares trazidos pelo indivíduo à interação, assim como os significados bastante particulares que ele obtém a partir dessa interação sob sua interpretação pessoal."
- Wikipedia é nóis
Simplificando, uma interação social não é importante somente pelo que é dito ou feito, mas por como a outra parte participante da interação entende aquilo que é dito ou feito.

Cada um de nós tem uma histórico de significados e valores que desenvolvemos e modificamos ao longo de nossas vidas. Cada um de nós tem símbolos. Salvaguardando contextos mais maliciosos, fazer referência a um dragão costuma ser uma exemplificação de força e poder. Conhecidos pela mais diversas culturas, essas criaturas bestiais já tomaram muitas formas, mas todas tem em comum a capacidade de destruição em massa, ainda que possa agir como uma besta irracional ou como um ser de grande sabedoria. Portanto, eu arriscaria que dragões costumam ser um dos símbolos mais invocativos que permeiam a cultura humana.

Não é a toa que histórias com essas criaturas tornam-se tão populares e atraentes.

Dragão: um dos símbolos máximos de poder.

Voltando ao foco principal, eu comecei dizendo que a humanidade precisa de símbolos, e depois me auto-corrigi. Mas as sentenças não são mutuamente exclusivas. É verdade, a humanidade desenvolve seus símbolos. Porém, assim como nós os desenvolvemos, acabamos por nos tornar dependentes deles.

E então temos o herói. Seria tolice desconsiderar a importância fundamental que os heróis tem em nossa sociedade. Não me refiro a instrumentos de propaganda ou entreterimento simples e trivial. Com efeito, estas duas últimas funções derivam do verdadeiro papel que o herói representa em nossa sociedade: a identificação pessoal. Heróis (e aqui eu incluo os bem conhecidos "super-heróis") são símbolos supremos da necessidade humana de possuir um modelo a ser seguido. Nós gostamos de heróis quando nos identificamos com eles, quando vemos neles um espelho utopizado de nossos ideais, gostos e vontades. Gostamos porque eles nos inspiram.

Um homem quer atuar como um herói. Quer sentir a importância de seus atos e de suas atitudes, ainda que tragam consigo difíceis decisões. Na mitologia grega, heróis eram seres semi-divinos, filhos de deuses e humanos, capazes de façanhas épicas. Enfrentavam mosntros (incluindo dragões) e os derrotavam mediante a combinação de suas capacidades antinaturais e de sua natureza humana. É justamente dessa mistura complexa que nasce a identificação.

Hércules, filho de Zeus.

Notem que o homem comum não possui as capacidades antinaturais e, portanto, não pode atuar como faria o herói. Porém, ao conservar a natureza humana, o homem pode se identificar e, de modo análogo, ser um herói na sua esfera de atuação. É por essa razão que os ideias e valores de um herói são tão importantes para o sucesso do mesmo. Só assim seremos capazes de nos identificar com ele.

Por fim, o herói é também um símbolo para interações sociais. Talvez um dos mais importantes. Quando vemos um outro alguém capaz de agir e se portar como um herói, esta pessoa, para nós, torna-se um herói. Lembre-se que um símbolo é tão poderoso quanto o significado que atribuímos a ele. Portanto, não importa se um indivíduo é incapaz de derrubar prédios, conter desastres naturais ou combater aberrações titânicas. Se ele é capaz de mostrar seu valor e significado, capaz de acreditar e seguir seus ideais, esta pessoa é tão digna de ser chamada de herói quanto um Hércules, ou Ulisses, ou Superman.

Portanto, heróis existem. Só precisamos saber reconhecê-los.

Fontes principais:

Interacionismo simbólico

Herói

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