Quando conversamos com outra pessoa podemos, resumidamente, nos sentir confortáveis ou desconfortáveis. A confortabilidade costuma vir com a intimidade, o tempo de convívio, as experiências passadas juntos, etc. A desconfortabilidade é gerada pela falta de afinidade, pelo conhecimento esparso de um outro alguém, por falta de coisas em comum, etc. De todo modo, é factual que todos já experimentaram a sensação de "silêncio críptico" que muitas vezes atinge uma conversa.
Em meu post "socialização" eu enfatizei a dificuldade que existe em interagir com outras pessoas uma primeira vez. Nesse processo acabamos nos deparando várias vezes com o silêncio que tanto desejamos quebrar. Entretanto, quero observar (e sobre isso que tratarei nesse post) que há um tipo de conversa a dois que jamais, em momento algum, alcançará tal momento de silêncio críptico. Uma conversa com um livro.
O livro é, sem dúvida, o único companheiro de conversa que jamais te deixará sem palavras, que de maneira alguma ignorará suas ânsia de vê-lo, que não despertará seu desejo de contato, conexão, familiaridade, pois esses desejos já estaram saciados.
Por que? Talvez porque o contato com o livro já comece de maneira familiar: você só o escolherá se ele o agradar. Você terá que dar o primeiro passo na socialização com ele: terá que adquiri-lo. Mas, após essa fase, o livro se mostrará um fiel companheiro, ele certamente falará muito com você. O livro te mostrará outras maneiras de enxergar a realidade, te transportará para lugares que você nunca esteve, te explicará como tudo funciona.
Pode se alegar que o livro é limitado. Que ele só tem uma mesma história pra contar e, quando esta termina, o livro não mais serve de nada. Isso nunca esteve mais distante da realidade. Apesar do livro manter eternamente as mesmas palavras em suas páginas, você muda. Você, ao lê-lo novamente, perceberá nuances que tinha deixado escapar, interpretará passagens de outra maneira, reviverá as mesmas emoções de um modo conhecido, mas totalmente novo. O livro pode ser estático, mas o leitor é dinâmico.
A conversa com o livro é um momento íntimo, pessoal, próprio, em que cada palavra afeta você de modo que só você pode sentir. Cada livro transforma uma pessoa de alguma maneira, e os melhores livros são os que conseguem transformar o maior número de pessoas, são aqueles que, como dizia Tolkien, deixam o leitor se identificar e iterpretar a história do seu jeito, e não trazer um molde definido de como ele deveria ser lido e interepretado.
Se existe uma conversa a dois que tem muita chance de dar certo, é a conversa com um livro.
"A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde"
- André Maurois
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