O que passa pela cabeça de alguém quando ela pensa em "sorte"? Espero que seja: "uma combinação de circunstâncias que leva a um determinado resultado positivo ou negativo" - negativo pois existe tanto a boa sorte quanto a má sorte - mas será que a sorte, companheira inesperada que costuma mudar o rumo de simples planos até o grande curso do Universo, será que de fato ela existe?
Maquiavel em sua célebre obra "O Príncipe" ressalta duas qualidades essenciais ao homem, em que na falta de uma, a outra se faria necessária, mas o ideal seria, digamos, possuir as duas. Virtù, ou a virtude de um homem, que seria uma espécie de compilação de todas as qualidades necessárias a um homem para prevalecer sobre uma situação: pode ser coragem, iniciativa, sabedoria, astúcia, persuasão, dissimulação, etc. E Fortuna, ou a boa e velha sorte, sem a qual um homem estaria sujeito exclusivamente a suas qualidades. É importante ressaltar que em sua obra, Maquiavel claramente se mostra mais favorável a aquela do que a esta, pois com virtude um homem dependeria exclusivamente de si mesmo e de suas capacidades, enquanto com sorte um homem estaria sujeito as circunstâncias, as quais muitas vezes ele não seria capaz de controlar.
Então eu lanço uma pergunta: seria mesmo a sorte um elemento raro e existente nas nossas vidas e a serviço de poucos, ou apenas um evento esporádico e aleatório que serve melhor a aquele que sabe dele se aproveitar?
Vejamos que, sob as dadas condições inciais de algo, uma pessoa poderá se sair melhor do que a outra. Essa é inclusive uma premissa de equivalência inicial utilizada desde competições desportivas até causas legais. Todos os competidores devem estar em pé de igualdade, sendo este um conceito variado por esporte: lutas geralmente envolvem categorias de idade e peso, esportes coletivos envolvem número iguais de participantes entre aqueles que os disputam, corridas envolvem uma mesma distância igual para todos que deve ser percorrida. Juridicamente todos são iguais perante a lei, que não distingue classe social, cor de pele, ou status financeiro, e também todos são, a princípio, inocentes até que fique provado do contrário. Mas apesar disso ainda vemos vencedores nas competições, e ainda vemos pessoas sendo culpadas no tribunal. Afinal, é isso que se espera que aconteça. Portanto, seria absurdo imaginar que, sob as mesmas circunstâncias que favorecem ou desfavorecem um alguém (mesma sorte), outrem poderia se sair melhor? Penso que não.
E sob condições diferentes? Alguém que tenha as cirscunstâncias mais a seu favor do que outra pessoa, este alguém seria um indíviduo com sorte? Ainda penso que não. Eventos arbitrários não ocorrem com o intuito de favorecer alguém, do contrário perderiam sua arbitrariedade e seriam eventos com intenção. Logo, não há sorte ou azar, mas tão somente as condições que se apresentam no momento, e que podem ser utilizadas melhor por um ou por outro, e ainda mesmo não utilizadas. Mas isso não significa dizer que alguém "desfavorecido" pelas circunstâncias não será capaz de maximizar seus feitos em relação a alguém favorecido. Isso é tão variável e imprevisível de pessoa pra pessoa como o é o próprio evento da Fortuna.
Eis então meu ponto: não há sorte ou azar, há oportunidades. A um homem, se Maquiavel me permite usar sua definição, bastará apenas ter virtude, pois com esta as condições hão de se tornar favoráveis, mas não devido a eventos incontroláveis, e sim em grande parte ao seu próprio esforço. É importante lembrar que não se é capaz de ter o domínio e o controle sobre tudo, mas o homem virutoso também estará preparado para as adversidades. Então, no curso da vida, se dará melhor aquele que souber aproveitar as condições que lhe são oferecidas, sem se preocupar em olhar aquelas que são concedidas aos outros.
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