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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Fala mansa

Não, não é uma postagem sobre a banda de forró pé-de-serra.

Acho que, no meu post "argumentar" eu fui relativamente claro (ou não) sobre o porquê da importância de se argumentar e como se deveria treinar esta arte para se tornar exímio nela. Ainda interligado com esse assunto, mas agora visto de um prisma diferente, venho falar a meus queridos leitores não mais sobre o que as pessoas dizem a você, mas como as pessoas dizem a você. Antes, uma distinção importante: persuadir é diferente de convencer. Persuadir é utilizar-se da emoção, da intimidade, ou de outro subterfúgio para, através de aconselhamentos, fazer com que a pessoa faça o que se pede. Convencer é vencer uma pessoa por meio da argumentação lógica bem estruturada, demonstrando porque seu ponto de vista é melhor que o dela (sim, isso é possível, leiam meu post "a relativização das coisas" para entender mais). Isto posto, voltaremos a questão do como.

Particularmente, nada tenho contra nenhum meio de comunicação, vejo que cada um apresenta sua vantagem e desvantagem, mas vez ou outra temos que nos alertar aos perigos de um em relação a outro. Minha opinião é suspeita, mas vejo que a moda de vídeos na internet (vlogs) tem evoluído no youtube, e muitas pessoas tem expressado sua opinião por meio destes, o que pode levar a... Problemas. Simplificando as coisas: ao utilizar-me da escrita, o leitor que lê isso tem tão-somente minhas palavras que, bem articuladas ou não, podem convencê-lo (que é o que eu tento fazer) ou persuadi-lo (que é o que eu tento evitar - nem sempre, hehe). Já quando a mensagem é passada por um vídeo, temos pelo menos dois novos elementos introduzidos na argumentação: voz (e sua entonação) e as imagens. Me detirei mais tempo àquela do que a estas.

Ao assistirmo um vídeo, ou algo dessa natureza, costumamos não nos atentar, de tão natural que já é, ao modo como as pessoas falam e o que elas fazem quando falam. Costumamos dar mais atenção a informação que ela está querendo passar e, justamente por uma filmagem contar com os dois elementos dinâmicos supracitados (voz e imagens), ela pode oferecer mais que um simples texto (veja bem - PODE). Mas ao ignorarmos elementos tão essencias à transmissão da mensagem, incorremos ao erro de sermos persuadidos, ao invés de convencidos, pelo modo contagiante com que a pessoa fala, ou talvez impactante, ou ainda tranquilizante. Existem pessoas que falam muito e não dizem nada. É por esse motivo que devemos nos policiar e ver se o que está sendo dito realmente tem consistência argumentativa, ou nós estamos aceitando simplesmente porque o modo com que a pessoa disse aquilo foi engraçado, ou ainda direto (e com isso quero dizer ofensivo), ou ainda simplesmente porque gostamos do jeito que ela fala.

Com efeito é mais fácil ser persuadido por um vídeo do que por um texto, pois naquele o transmissor pode usar, além dos gestos e expressões faciais (imagens - como muito acontece nos vídeos), a sua fala pausada e mansa, ou a sua brutalidade direta e habitual, para que a mensagem tenha mais sentido ou, nesse caso, pareça ter mais sentido. Enquanto que para um texto o leitor pode usar de argumentação tautológica (circular), pode usar de falácias, ou mesmo de redundância (a boa e velha enrolação). Mas tudo isso também está a disposição daquele que manda sua mensagem em vídeo.

Eu poderia demonstrar aqui alguns exemplos para o que digo, mas para não fazer o mal a ninguém, e porquê eu nesse blog ajo mais como um racionalista do que como um empirista, gostaria que você próprio leitor fizesse o seguinte exercício: carregue um vídeo qualquer na internet, em que alguém esteja agumentando sobre alguma coisa. Deixe o vídeo minimizado, e apenas escute o que o outro tem a dizer (isso elminará o elemento "imagens"), em seguida deixe o vídeo sem som, e apenas veja o que o outro fez ao dizer aquilo (eliminamos o elemento voz e argumentação) e, se tiver paciência, escreva aquilo que por ele foi dito e releia para si mesmo, vendo se aquilo coerência e sentido (eliminando o principal: imagens e voz).

Com isso espero que você leitor, seja capaz de dissociar corretamente aquilo que foi dito do modo como foi dito, sempre lembrando que é importante também dissociar de por quem aquilo foi dito (mas isso é assunto para outro post). Espero, com essa breve explanação, ter contribuído para acrescentar algo ao seu senso crítico, e que agora você esteja ainda mais preparado para fazer o julgamento correto daquilo que lhe é veiculado através de vídeos. Bons vídeos.

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