A arte de duvidar. Será que devemos levá-la ao extremo? Ou será que não há "extremo"? Será que somente há o limite máximo que nossa mente pode duvidar antes de cair em uma imensa tautologia metafísica?
Entenda leitor, eu imagino que você já tenha duvidado da sua existência. Antes de isso se tornar tão comum e difundido pelo filme Matrix, com Neo, você possivelmente já tinha se perguntado ou ao menos se perguntaria: será que tudo a minha volta é real? Será que eu não sou apenas a projeção mental de um outro ser? Ou os dados de uma programa de computador de Aliens? Como posso saber que "eu" realmente sou "eu"?
É uma excelente pergunta, cuja resposta até agora não encontrei nenhuma convincente. Nós podemos apenas especular sobre sermos ou não reais ou estarmos ou não aqui. Mas você já duvidou de coisas mais óbvias (se é que você nã considera sua existência algo óbvio). Será que a chuva realmente molha? Será que a gravidade é uma distorção da malha espaço-temporal que faz com que a matéria "afunde" nela? Será que o oxigênio é o que realmente nos mantém vivos? Será que o Sol realmente funciona à fusão de hidrogênio? Será que eu posso acreditar na ciência? Ou na religião? E na filosofia?
É de enlouquecer não é mesmo? Alguém pode dizer que é tolo aquele quem aceita tudo sem questionar, mas é estúpido aquele que questiona tudo. Será mesmo? Será que esta não é uma colocação duvidosa? Questionável? E essa que eu fiz agora sobre a primeira ser uma colocação duvidosa? Será que também não o é? E esta última?
Imagino que agora vocês tenham percebido o infinito ciclo de regressão para qual é levado todo aquele que se questiona demais. Não considero se questionar demais um problema, considero se questionar demais da maneira errada um problema. Não há mal algum em questionar se você é você, se o mundo é o mundo e se tudo funciona como dizem para você que funciona. Mas você não pode extremizar o pensamento e duvidar de tudo que a ciência fala, pois a simples arte de duvidar é ignorante. A dúvida é efeito da refexão e não sua causa, e se você transforma a dúvida em causa você não tem nada além de um imbecil que questiona tudo sem apontar saída ou solução.
Platão questionava o mundo. Mas ele havia refletido antes, pois para ele o mundo real era o das ideias, e este era apenas um véu que estava por cima deste outro. Descartes duvidou de sua existência, mas para concluir que ele existia devido a sua dúvida, ao seu pensamento. E assim foram muitos outros, pois a dúvida vem da reflexão, e da dúvida vem o conhecimento.
Portanto leitor, não se importe em duvidar de tudo, desde de que você tenha tido motivos para tal. Não se importe em lutar contra o "óbvio", porque o "óbvio" é algo tão sólido quanto o é um castelo de areia na praia em dia de tempestade. Agora, se pergunte leitor: você tem duvidado o suficiente? Eu duvido.
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